“Brincar
é coisa séria. A coisa séria que é divertida”. Aprendi isso com Rubem Alves.
Estou certa de que ele foi muito bem acolhido no céu, com boas brincadeiras.
Este
texto nasceu de algo divertido. Um moletom desses que fazemos em turma. Ele
deveria ter ficado pronto antes da copa e até agora nada. Talvez o
moletom seja da ordem das coisas impossíveis, nem fique pronto tão cedo.
Foi o que
escrevi para o pessoal que estuda comigo: “Enquanto isso, no verão... chega uma
nova turma, chega a ruiva dos meus sonhos, a amiga que procurei por toda vida,
mas não chega o tal do moletom!”. Foi engraçado, todos os meninos e uma parte
das meninas entraram na brincadeira: “Puxa, que legal! Vem uma modelo estudar
conosco”, comentou uma moça linda. “Cancela o meu moletom!”, os rapazes
disseram em coro.
Foram
muitos comentários e risadas. Até que veio outra parte das meninas para dizer
coisas assim: “Aposto que ela não estuda, está longe dos trinta, não tem filho.
Cabelo ruivo é fácil, agora essa bunda, só no photoshop e malhação o suficiente
para não fazer mais nada! Beleza projetada pela mídia e blá, blá, blá...”
Eu questionei:
Qual é o problema com a bunda, mulherada? Até parece que não há mulheres que
têm filhos e continuam lindas, inclusive depois dos trinta. Estudam, trabalham
e se cuidam. Foi então que outra amiga apareceu e disse: “Não há problema
nenhum. Só digo que concordo que devemos estar acima desses códigos morais e
regras impostas por uma sociedade que é muito machista e faz questão de
coisificar, principalmente a mulher!”
Os
questionamentos que minhas amigas fizerem foram interessantíssimos,
trouxeram-me de volta ao Profana, porque a ideia aqui é justamente essa:
combater as palavras umas com as outras, feito um jogo.
Vejam bem:
1. Olhar
uma foto dessas e dizer que é pothoshop é puro ressentimento! Uma foto é sempre
uma cópia do real, tem um jogo de luz, efeito, etc. É uma imagem, não o corpo
em si. Mas isso não tira a beleza registrada. Até porque essas dicotomias real/ilusão, mentira/verdade,
interior/exterior já não nos convencem mais. Ninguém tem a verdade, o real ou
interior de nada do que se possa ser ou existir. O que temos são máscaras,
anéis de cebolas, um entrecruzar-se de múltiplas imagens, interpretações e
reconstruções sociais.
2.
Machismo é uma palavra tão gasta que até dói de escutar. Por exemplo: Se um homem bate numa mulher, não há machismo nisso,
há violência. Chamá-lo de machista é simplesmente desviar o foco.
3. A
censura ao corpo é sempre uma censura ressentida. Quando eu vejo uma mulher linda, eu admiro. Fico inspirada! Lembro
disso na hora de me cuidar. Envelhecer é coisa que todos nós vamos enfrentar,
mas isso não significa que podemos desencanar de vez da nossa aparência e
justificar que tudo é “manipulado”!
Sinceramente,
não entendo de quais os padrões e códigos as minhas amigas (que disseram que a
postagem da ruiva foi desnecessária no grupo) estão escapando? Talvez elas
resolveram ser o avesso dos “padrões” que são históricos, plurais e
culturalmente construídos.
Eu não
obedeço nada. Nenhum código nem dever. Desobedeço todos, faço sempre o que eu
quero. E não peço permissão para ninguém.
Quando eu obedeço algum dever é porque ele foi colocado por mim mesma. Por isso
eu vou na academia todas as manhãs (de segunda a quinta): para ficar GOSTOSA
(ou, pelo menos, deixar de ser magrinha e ficar magra com um tiquinho bom de
coxa e bunda redondinha)!
Pior do
que censurar o corpo, é censurar o prazer. Quem não é gostosa é o que? Nós
sabemos: mal comida!
Cada pessoa que pôe um óculos gigante, desvia o olhar no selfie, e muda o assunto do sexo, vai fazendo um padrão de feiúra. Querem que olhemos a cena, não o corpo; olhemos a recusa, o que não têm ou o aviso de que não vão dar. Dois corpos se olhando e se atraindo ficam com essas preocupações. Por que a modelo não pode ser um modelo? Por que a gente se conhece mais conversando do que usando toda a força e fôlego, trepando? Quem faz cara feia não quer que a face importe. Mas ela importa. Não se vê interior nenhum ali. Só uma cara feia. E no máximo, dá vontade de bagunçar aquela feiúra ptemeditada.
ResponderExcluirPrecisa! Perfeito ! CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP (aplaudindo de pé em frente ao computador !!
ResponderExcluirÓtimo ler um posta explicitamente sensato !
Escreveu lindamente, Lívia. Como sempre!
ResponderExcluirNão sei se a frase final procede. rs
Geralmente, mulheres depreciam outras por inveja mesmo, ciuminho da beleza alheia.
O importante é não nos focarmos na beleza física, tão pouco importante.
Em tempo: a modelo mostrada não me parece "photoshopada", mas pode ser...rsr
Beijo.