domingo, 20 de julho de 2014

A ruiva dos meus sonhos



“Brincar é coisa séria. A coisa séria que é divertida”. Aprendi isso com Rubem Alves. Estou certa de que ele foi muito bem acolhido no céu, com boas brincadeiras.
Este texto nasceu de algo divertido. Um moletom desses que fazemos em turma. Ele deveria ter ficado pronto antes da copa e até agora nada.  Talvez o moletom seja da ordem das coisas impossíveis, nem fique pronto tão cedo.
Foi o que escrevi para o pessoal que estuda comigo: “Enquanto isso, no verão... chega uma nova turma, chega a ruiva dos meus sonhos, a amiga que procurei por toda vida, mas não chega o tal do moletom!”. Foi engraçado, todos os meninos e uma parte das meninas entraram na brincadeira: “Puxa, que legal! Vem uma modelo estudar conosco”, comentou uma moça linda. “Cancela o meu moletom!”, os rapazes disseram em coro.
Foram muitos comentários e risadas. Até que veio outra parte das meninas para dizer coisas assim: “Aposto que ela não estuda, está longe dos trinta, não tem filho. Cabelo ruivo é fácil, agora essa bunda, só no photoshop e malhação o suficiente para não fazer mais nada! Beleza projetada pela mídia e blá, blá, blá...”
Eu questionei: Qual é o problema com a bunda, mulherada? Até parece que não há mulheres que têm filhos e continuam lindas, inclusive depois dos trinta. Estudam, trabalham e se cuidam. Foi então que outra amiga apareceu e disse: “Não há problema nenhum. Só digo que concordo que devemos estar acima desses códigos morais e regras impostas por uma sociedade que é muito machista e faz questão de coisificar, principalmente a mulher!”
Os questionamentos que minhas amigas fizerem foram interessantíssimos, trouxeram-me de volta ao Profana, porque a ideia aqui é justamente essa: combater as palavras umas com as outras, feito um jogo.
Vejam bem:
1. Olhar uma foto dessas e dizer que é pothoshop é puro ressentimento! Uma foto é sempre uma cópia do real, tem um jogo de luz, efeito, etc. É uma imagem, não o corpo em si. Mas isso não tira a beleza registrada. Até porque essas dicotomias real/ilusão, mentira/verdade, interior/exterior já não nos convencem mais. Ninguém tem a verdade, o real ou interior de nada do que se possa ser ou existir. O que temos são máscaras, anéis de cebolas, um entrecruzar-se de múltiplas imagens, interpretações e reconstruções sociais.
2. Machismo é uma palavra tão gasta que até dói de escutar. Por exemplo: Se um homem bate numa mulher, não há machismo nisso, há violência. Chamá-lo de machista é simplesmente desviar o foco.
3. A censura ao corpo é sempre uma censura ressentida. Quando eu vejo uma mulher linda, eu admiro. Fico inspirada! Lembro disso na hora de me cuidar. Envelhecer é coisa que todos nós vamos enfrentar, mas isso não significa que podemos desencanar de vez da nossa aparência e justificar que tudo é “manipulado”!
Sinceramente, não entendo de quais os padrões e códigos as minhas amigas (que disseram que a postagem da ruiva foi desnecessária no grupo) estão escapando? Talvez elas resolveram ser o avesso dos “padrões” que são históricos, plurais e culturalmente construídos.
Eu não obedeço nada. Nenhum código nem dever. Desobedeço todos, faço sempre o que eu quero. E não peço permissão para ninguém.
            Quando eu obedeço algum dever é porque ele foi colocado por mim mesma. Por isso eu vou na academia todas as manhãs (de segunda a quinta): para ficar GOSTOSA (ou, pelo menos, deixar de ser magrinha e ficar magra com um tiquinho bom de coxa e bunda redondinha)!     
Pior do que censurar o corpo, é censurar o prazer. Quem não é gostosa é o que? Nós sabemos: mal comida!



3 comentários:

  1. Cada pessoa que pôe um óculos gigante, desvia o olhar no selfie, e muda o assunto do sexo, vai fazendo um padrão de feiúra. Querem que olhemos a cena, não o corpo; olhemos a recusa, o que não têm ou o aviso de que não vão dar. Dois corpos se olhando e se atraindo ficam com essas preocupações. Por que a modelo não pode ser um modelo? Por que a gente se conhece mais conversando do que usando toda a força e fôlego, trepando? Quem faz cara feia não quer que a face importe. Mas ela importa. Não se vê interior nenhum ali. Só uma cara feia. E no máximo, dá vontade de bagunçar aquela feiúra ptemeditada.

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  2. Precisa! Perfeito ! CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP (aplaudindo de pé em frente ao computador !!
    Ótimo ler um posta explicitamente sensato !

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  3. Escreveu lindamente, Lívia. Como sempre!
    Não sei se a frase final procede. rs
    Geralmente, mulheres depreciam outras por inveja mesmo, ciuminho da beleza alheia.
    O importante é não nos focarmos na beleza física, tão pouco importante.
    Em tempo: a modelo mostrada não me parece "photoshopada", mas pode ser...rsr
    Beijo.

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